Passarinha: sobre ter um Desfecho diferente
Passarinha, da Kathryn Erskine, foi um livro que esteve muito tempo na minha wishlist e fiquei muito feliz por lĂȘ-lo agora, porque acho que o li no momento certo.
TĂtulo original: Mockingbird
Autora: Kathryn Erskine
Editora: Valentina
PĂĄginas: 224
Ano: 2010 (EUA) | 2016 (BR)
★★★★★ + ❤
★★★★★ + ❤
O livro toca em dois assunto sensĂveis: a violĂȘncia na juventude e o autismo. Talvez possa parecer meio doido combinar dois temas diferentes, mas em Passarinha temos um entrelaçamento muito bonito e triste deles.
A comunidade em que se passa a histĂłria estĂĄ de luto porque abriram fogo em uma escola. Uma das vĂtimas foi Devon, irmĂŁo mais velho de Caitlin, a narradora. Devon foi atingido no coração e acabou nĂŁo sobrevivendo. Agora, Caitlin e seu pai precisam lidar com esse vazio e essa saudade.
Caitlin é uma garotinha diferente. Ela não consegue olhar diretamente para as pessoas, não gosta que a toquem, não se då bem em grupos e detesta que as cores se misturem. Na escola, ela recebe acompanhamento psicopedagogo, tanto por causa das questÔes de sociabilidade quanto por causa da perda do irmão. Fica cada vez mais óbvio que ela é bastante funcional e tem um alto desempenho em vårias tarefas, como ler e desenhar.
O livro Ă© narrado pelos olhos e pelas palavras de Caitlin, o que significa que existe muita graciosidade, inocĂȘncia e verdade. A protagonista tem SĂndrome de Asperger, que se encaixa no autismo. O fato de ela ser Asperger confere um tom muito peculiar Ă escrita e Ă leitura. O leitor nĂŁo vĂȘ muita pontuação (como vĂrgulas). AlĂ©m disso, Ă© comum parĂĄgrafos serem gigantescos. Esse cuidado em manter atĂ© mesmo a narração de um modo bem caracterĂstico Ă© maravilhoso e encantador. Isso permite que o leitor esteja na histĂłria de um modo muito singular, Ă© quase como se pudĂ©ssemos imaginar como Ă© ser a Caitlin.
Ă muito difĂcil enxergar o que vocĂȘ tem que enfrentar quando as coisas começam a virar geleia e se fundir num borrĂŁo e se transformar umas nas outras, p. 32 |
EntĂŁo, Ă© muito fĂĄcil perceber como essa garotinha vĂȘ o sofrimento do pai. Ela nĂŁo entende direito, mas sabe que ele precisa de um Desfecho. Fica bem Ăłbvio que o pai dela estĂĄ bastante deprimido e que nĂŁo tem muito tato para lidar com as limitaçÔes dela. Muitas vezes, por exemplo, ele a obriga a fazer coisas que estĂĄ alĂ©m do que ela suporta, como receber abraços e olhar para as pessoas. Por um lado, eu entendo que precisa haver esse desafio, mas por outro eu senti que ele foi muito pouco empĂĄtico. Ainda assim, nĂŁo Ă© um pai omisso e desinteressado; ele estĂĄ sempre por perto. Mas, como Caitlin quer sempre conversar sobre o irmĂŁo, isso acaba por drenar as forças dele.
Pessoas com Asperger são conhecidas por repetirem os mesmos padrÔes em diversas situaçÔes e tarefas, então, Caitlin repete muitos comportamentos, diålogos e intençÔes. Depois que ela percebe que ambos precisam de um Desfecho, isso se torna a tarefa principal de suas dias.
Como pode existir alguma palavra mais especial que Coração?, p. 67 |
Algo que me fez ficar mais apaixonada pelo livro foi todo a simbolismo e as referĂȘncias ao clĂĄssico O sol Ă© para todos, da Harper Lee. Existe uma nota da tradução em que explicam diversas palavras e expressĂ”es, o que faz o leitor entender esse simbolismo e essas referĂȘncias. Para quem jĂĄ leu O sol Ă© para todos, como eu, Passarinha Ă© uma leitura que sĂł faz encantar mais ainda pela sensibilidade do mundo das crianças.
Mas nĂŁo somente lĂĄgrimas Passarinha causa (rs). TambĂ©m causa vĂĄrias risadas, porque Caitlin, como Asperger, nĂŁo tem filtro sobre o que fala, entĂŁo muitos diĂĄlogos sĂŁo incrĂveis e engraçados.
A leitura Ă© incrĂvel, sensĂvel e emocionante. Ă muito lindo ver essa perda pelos olhos e sentimentos da Caitlin, nĂŁo somente porque Ă© autista, mas porque Ă© uma criança ainda aprendendo sobre a vida.
Acho que a boa notĂcia Ă© que todo mundo vai ter que aguentar ser especial porque todo mundo estĂĄ vivo, p. 197 |
Love, Nina :)
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